sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

DERIVA 24h – Muitas horas antes


O livro Walkscapes – o caminhar como prática estética, de Francesco Careri, inspirou os desejos da deriva. Seguem algumas partes interessantes.



ka – o símbolo egípicio da eterna errância

“O caminhar é uma fórmula simbólica que tem permitido que o homem habite o mundo.” Uma forma de se relacionar com o território que gera transformação simbólica.

“A história das origens da humanidade é uma história do caminhar, é uma história de migrações dos povos e de intercâmbios culturais e religiosos ocorridos ao longo de trajetos intercontinentais”.

“O caminhar, mesmo não sendo a construção física de um espaço, implica uma transformação do lugar e dos seus significados. A presença física do homem num espaço não mapeado – e o variar das percepções que daí ele receba ao atravessá-lo – é uma forma de transformação da paisagem que, embora não deixe sinais tangíveis, modifica culturalmente o significado do espaço, e consequentemente, o espaço em si, transformando em lugar. O caminhar produz lugares”.

“A (cidade) que é descoberta pelas errâncias dos artistas é uma cidade líquida, um líquido amniótico em que se formam espontaneamente os espaços de alhures, um arquipélago urbano a ser navegado indo à deriva. Uma cidade em que os espaços do estar são ilhas do grande mar formado pelo espaço do ir”.

“Os pontos de partida e de chegada tem um interesse relativo, enquanto o espaço intermediário é o espaço do ir, a essência mesma do nomadismo, o lugar em que cotidianamente se celebra o rito da eterna errância.

Mapa nômade

“O mapa nômade (...) parece refletir esse espaço líquido em que os fragmentos cheios do espaço do estar flutuam no vazio do ir, em que percursos sempre diversos permanecem até serem apagados pelo vento. (...) É sulcado por vetores, setas instáveis que são mais conexões passageiras que traçados: o mesmo sistema de representação que se encontra na planta de um vilarejo paleolítico, nas plantas dos walkabouts dos aborígines australianos e nos mapas psicogeográficos dos situacionistas”.


Pontos, linhas e superfícies que se transformam no tempo.

“Um espaço construído pelos vetores do percurso errático, por uma série de elementos geográficos ligados a eventos míticos e montados sequencialmente”.

O sol, a lua e o horizonte.

Espaço interno

“O nascimento do espaço interno (na cultura egípcia) estava ligado ao conceito do Ka,  símbolo da eterna errância, uma espécie de espírito divino que simbolizava o movimento, a vida, a energia, e que trazia consigo a memória das perigosas migrações do paleolítico”.

“O Ka é um dos símbolos mais antigos da humanidade e, por ser freqüente em numerosas culturas muito distantes entre si, poderia fazer supor que fosse compreensível pelas multidões que se deslocavam a pé através dos continentes: um símbolo compreensível por todas as populações errantes do paleolítico”

“Nas culturas primitivas (...) os lugares eram uma espécie de máquina através da qual se adquiriam outros estados de consciência”. 

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